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Por dentro

Fecho os olhos rapidamente, a cabeça encostada na janela suja de vidro enquanto o ônibus percorre os traços quase iguais do subúrbio do Rio de Janeiro. O calor dissolvendo as linhas da minha visão, liquefazendo minha máscara de cores neutras e batom vermelho.

Enquanto os olhos descansam, minha cabeça bate na sua cabeceira de madeira, sem bater porque, instantaneamente, sinto a mão cheia de calos me apoiando, enquanto caio, revolvendo -me entre lençóis. Você dentro e eu, ainda mais dentro de mim. Ouço palavras ásperas as quais respondo cegamente, tateante. O que quiser, amor. Ouço respirações anelantes, sentindo âmago que desconhecia porque fora feito para receber.

Nunca antes eu havia recebido. Sem generosidade porque dividimos este pedaço de mim. Meus ouvidos, obstruídos, fecho os olhos e abro a boca, coloco a língua para fora.  Sinto gosto de branco.

Morro ao ponto de, quando reabro os olhos, o tempo não vem, percebo segundos em batidas convulsas de coração e arrepios acordados. Suspiro.

Desperto do descanso ocular com um tranco. Moça, chegamos no ponto final. Perdeu o ponto, foi? Está perdida?