Monthly Archives: April 2011

ALICE: You’re a piece of shit.

DAN: Deception is brutal. I’m not pretending otherwise.

ALICE: How? How does it work? How do you do this to someone?

Dan tries to think of an excuse.

ALICE: Not good enough.

DAN: I fell in love with her, Alice.

ALICE: Oh, as if you had no choice? There’s a moment, there’s always a moment, “I can do this, I can give in to this, or I can resist it.” And I don’t know when your moment was, but I bet you there was one. I’m gone.

Dan blocks her exit.

DAN: It’s not safe out there.

ALICE: Oh, and it’s safe in here?

DAN: What about your things?

ALICE: I don’t need “things.”

DAN: Where will you go?

ALICE: Disappear.

Vamos fingir que é verdade. Teoricamente, para mim, seria fácil simplesmente aceitar que eu sou mesmo melhor do que você e que eu me cansaria. Aceitar que eu não fui abandonada, que tudo estava mesmo fadado e as coisas só aconteceram. Para mim seria fácil não falar mais de você e sorrir um meio sorriso de lado, meio sacana quando alguém mencionasse você e os subúrbios. Seria fácil se mentir assim, descaradamente alguma vez fosse fácil. Não é. Mas finjamos que eu sei mentir, eu digo e você finge que acredita: Eu não te amo mais. Adeus.


Literariedades II: o livro.

A capa, na minha cabeça, só poderia ser esta. Estão tentando me convencer de que a imagem violenta, forte, indigesta até, não é material para capa. Não julgue o livro pela capa é só mais uma mentira. Para mim, imagens estão atreladas diretamente a palavras e a textos e eu não queria diferente. Queria isso: hospital, perfurações, dor, sangue. Não que tudo seja assim. Mas eu quero um abaixo da pele. Eu quero o dentro. A perfuração.

Este  post vai ser longo. O livro está pronto (há mais de ano). E agora… a apresentação dele também está pronta. Marcus Motta, porque tinha que ser ele a me apresentar. Ele reconhece minhas linhas quando elas ainda não era linhas. Ele tenta me segurar pela mão e eu sempre escapo por não me achar merecedora. Então, para introduzir meu Intra – Venoso, ele me aparece com isto:

“Quando leio Mayra Lopes do Couto, pelos minutos de solidão que me seduzem, às vezes, tenho um desejo infinito de que a sua escrita permita-me surgir como imagem destroçada e íntima de suas linhas ― pela freqüência com que, solenemente, vela, agora, a minha existência de leitor. Quando isso acontece, experimento a idéia de que a arte de seus micros ou pequenos contos reside em adquirir a perceptividade maior da razão da leitura.

Quanto mais as páginas retornam à minha mente de simples leitor, agora que escrevo, mais a leitura, autonomamente, se apercebe de si. É inegável que isso apareça na mente de qualquer leitor, pois a escrita de Mayra solicita uma figura postada, embaixo de um umbral, diante de cenas que guardam a lei física de que em pequenas partículas há enorme concentração de energia. A leitura de seus contos é isso: estamos ali no risco de ler “tão perigosos quanto energéticos entes”.

Qualquer leitor há de ter cuidado. Lidar com os micros e pequenos contos de Mayra é distinguir a significação de sua forma; reconhecendo a expressão da figura da vida na iminência de explodir, já que se acha determinada por um objetivo peculiar e superior da arte do conto comprimida em pequena matéria literária. Logo, a vida e os contos assumem uma relação aparentemente evidente e que, contudo, quase se subtrai ao conhecimento, revelando, só a si a energia que contém.

É sentindo-me dotado da honra de apresentar o seu livro, no lugar possível de qualquer leitor, que ambiento e antecipo as explosões que se darão em pele delicada e irônica dos micros e pequenos contos, recebendo deles a voz de uma escrita que não se deixa capturar, sucumbir, cair ou se afundar em qualquer limite empírico do que seria a realidade de uma existência. Ao fim e ao cabo, é certo que penso servir-me de cada um deles nessa apresentação para dar a conhecer o que de fato só se dará na leitura de alguém.

Mas eles, os pequenos e micro contos, oferecem mais ao leitor. Muito mais, posso dizer. Neles há o espírito que descansa na presteza de se fazer o que é: literatura concentrada em pequenas partículas literárias. É a partir disso que a leitura deve acontecer, estando o leitor embaixo do umbral, lendo cada linha do livro Intra-Venenoso. O livro, portanto, não é a representação da vida obscura, tímida e desprezada, que distraidamente se move nas ruas e lares. Antes, é a vida arrumando passagens para fazer explodir em nossas veias o que sempre nos faltará: ela mesma em cada pequeno gesto literário que a contém.”

E depois disso, eu até reli o livro já escrito. Porque achei que talvez a apresentação valha mais do que todo o escrito. O que falta agora? Só mandar para a editora que eu quero. Ah, e não é nenhum lugar onde eu conheça ninguém, ou alguém tenha qualquer tipo de ressentimento e/ou inimizade para comigo. Mesmo quando climas tensos não existiam, eu nunca pensei em pedir favores. E nem submeter – tanto a mim quanto a outros, a certos constrangimentos.


As variações – ou literariedades parte I

Uma das  notícias “literárias” – tenho dificuldades de me exergar como escritora: eu fui a primeira contribuinte do Projeto As Variações Literárias, idealizado pela Bruna Maria. Me senti honrada, como sempre, com convites sempre feitos por ela, idealizadora de Projetos instigantes. A admiração é mútua, assim como a amizade, o carinho e o respeito. Vocês poderão ler mais sobre o Projeto no primeiro link. A primeira variação, é minha. Demorei a divulgar porque queria que a segunda variação já estivesse no ar, para que se pudesse ler mais do que eu, uma vez que não me acho grandes coisas.


Cores – sol

Então, eu queria um amarelo nas unhas para alegrar o cinza e a falta de perspectivas instaladas por aqui. Um amarelo com flocos Raio Alfa para viajar em partículas de cristal líquido. Mas não da mesma forma que o Marcelo Camelo, ao fazer seus ensaios (pseudo hippie, intelectual, pedófilo do caralho) pede mais “pôr – do – sol” nas músicas. Que mais pôr – do – sol o que? Não quero nada que possa ser aplaudido no Arpoador. Minhas unhas amarelo da cor de giz -de -cera de criança. Justamente quando preciso arrumar emprego. Então, se conseguir pelo menos uma entrevista qualquer, lá vou eu desesmaltar minhas unhas cor de giz – de -cera, feitas terapeuticamente num momento em que não tenho tempo a perder, num momento em que tudo parece maior – e por favor, não confundir maior com melhor. Agora, relógios correndo, cálculos mentais e frustrações esperando ao virar de esquina, no mês que vem.


I´m not going to lie and tell you that the future is full of promise… He awoke each morning with the desire to do right, to be a good and meaningfull person, to be, as simple as it sounded and as impossible as it actually was, happy. And during the course of each day his heart would descend from his chest into his stomach. By early afternoon he was overcome by the feeling that nothing was right, or nothing was right for him, and by the desire to be alone. By evening he was fulfilled: alone in the magnitude of his grief, alone in his aimless guilt, alone even in his loneliness. I am not sad, he would repeat himself over and over, I am not sad. As if he might one day convince himself.Or fool himself. Or convince others – the only thing worse than being sad is for others to think that you are sad. I am not sad. I am not sad. Because his life had unlimited potential for hapiness, insofar as it was an empty white room. He could fall asleep with his heart at the foot of his bed, like some domesticated animal that was no part of him at all. And each morning he would wake with it again in the cupboard of his rib cage, having become a little heavier, a little weaker, but still pumping. And by midafternoon he was again overcome with desire to be somewhere else, someone else, someone else somewhere else. I am not sad.”

FOER, Jonathan Safran. Everything is illuminated. Penguin Books: London, 2002.


Rendição

“Oh darling, it’s so sweet, you think you know how crazy
How crazy I am”

[ Fast as you can – Fiona Apple]

E dessa vez, quando tiver que me despedir – porque terei – saberei que não foi culpa minha, algo que eu fiz, algo que outra pessoa fez ou qualquer coisa cuja uma culpa qualquer paire acima de alguma cabeça. Melhor assim. Talvez, mais tranquilo assim. Quem sabe até uma menor possibilidade de entrar em crise ou ter que avisar sobre todas as minhas inseguranças e pô-las na mesa e perguntar: e aí, quer embarcar?

Pode vir, se quiser.

Também preciso parar de mandar que vão embora, derrubar este muro à prova de balas e parar de pensar daquele jeito. Essa idéia da “proteção” começando a se misturar com a idéia de que I´m damaged for good, quando, antes de certas coisas, por mais que doesse, eu sempre fui, no fundo, no fundo uma otimista.

E parar de querer cantar “I don´t want to fall in love”  ou “Fast as you can”. Free yourself. Still… no need to run. Não agora.

Nenhuma razão pra ninguém correr e, se eu tiver um voto e puder escolher… que o antes da despedida seja doce, tanto quanto possa ser. Tanto quanto Ferrero Rocher numa noite de domingo.


“La verité, l´âpre verité”

” A verdade, tanto quanto sobre as pequenas como sobre as grandes coisas, parecem-me quase inatingível – em todo caso, uma verdade um pouco circunstanciada. Monsier de Tracy me dizia: [riscado: só há verdade nos] só se pode alcançar a Verdade no Romance. Vejo casa dia mais que fora deles isso não passa de pretensão. Eis por que:”

STHENDAL na folha de guarda do exemplar de O vermelho e o negro da Biblioteca Comunale Sormani, de Milão.


El tango – parte II

La salida. Cruzamento adelante.

O salão escuro, luzes que sobem, coloridas ao invés de descer. Pela janela, a lua cheia. Numa pilastras, Noelle com vestido preto, justo. Stilettos com solado vermelho. Dizem que os solados vermelhos foram inspirados nos sapatos das prostitutas inglesas, elas caminhavam entre os becos sujos e marginais de Londres entre sangue, o sangue das brigas, o sangue das gangs, o sangue dos assassinatos; o sangue grudava no solado dos sapatos, fazendo-os vermelhos. Noelle escaneava com o olhar o salão vazio, de longe a silhueta magra vindo ao seu encontro.

– Oi. Vamos dançar?

No tango argentino, cada bailarino tem que estar ciente do papel que irá desempenhar. Precisam entender la marca. O conceito de marcação, que não tem a ver com condutor ou seguidor. Além disso, cada bailarino precisa achar seu próprio eixo, independente do parceiro, fixar-se em uma postura cômoda para si. Já estava claro que Noelle prefiria escorar seu eixo, como em uma pilastra, medo de cair, paranóia. Buscava sempre o mais seguro até o momento em que decidisse que soltar-se não representava um perigo maior do que ela já tinha corrido ou se arriscava a correr. Até numa pista de dança, toda cautela é necessária.

– Por enquanto não, deixa eu terminar de beber isto aqui. – diz Noelle enquanto espera por um rosto conhecido

Abertura à direita: extensão do pé livre em deslocação lateral, seguindo a linha dos ombros, colocando todo o peso do corpo naquele movimento – à direita, para longe das cadeiras e dos rostos sem nomes sentados. O outro pé chegando levemente para junto do corpo, sem peso, delicadamente.

“First there is desire
Then… passion!
Then… suspicion!
Jealousy! Anger! Betrayal!
Where love is for the highest bidder,
There can be no trust!
Without trust,
There is no love!
Jealousy.
Yes, jealousy…
Will drive you… mad!

Roxanne
You don’t have to put on that red light
Walk the streets for money
You don’t care if it’s wrong or if it is right

Roxanne
You don’t have to wear that dress tonight
Roxanne
You don’t have to sell your body to the night”

[ El tango de Roxanne – Moulin Rouge soundtrack]

La caminada:

Timidamente, começa-se a caminhar? Noelle ainda congelada sem saber o que fazer e que rumo tomar. Um rosto conhecido por favor, para me dar uma resposta. Calma, calma Olívia. Eu não consigo pensar com proximidade, agir então menos ainda.

Estela chega com um abraço por trás. Ainda bem! Me ajuda? Eu não sei ainda!

– Não sabe? E  você se moveu?

– Não.

– Então continua parada. Ou você se decide ou decidem por você. – Conselho sábio.

Já tinha flexionado a perna para fazer a primeira abertura. De volta à frente, restava agora caminhar. Noelle sempre caminhou como quem sente medo, pânico. Nos últimos meses, potencializado por um medo real. O medo de fantasmas, o medo da repetição, dos ciclos incessantes. Não é à toa que tenha decidido ser bailarina. Mas há sempre o momento em que o calcanhar afasta-se ligeiramente do solo. Perigo de queda. Demos início à dança propriamente dita. – Estela me segura, lida com meu medo do chão?

– Mas se do chão você não passa…

Ainda assim a queda pode ser feia. Meus ossos não se calcificaram após a última queda, que fora trágica, você sabe! Meses no hospital.

– Por que se expôr ao perigo novamente?

– Foi a profissão que eu escolhi.

A pista de dança enche, os pares são formados, os pares são trocados, os pares são dispostos de qualquer maneira, há o risco de baterem-se uns aos outros, muitas pessoas, não há espaço, os bailarinos arrancando as bailarinas das mãos uns dos outros.

Noelle tentava observar os passos ministrados de maneira segura por Estela. Mas esta já se encontrava fora do campo de visão, as mãos a pegaram, urgentes para se demorar na dança e separar o conselheiro do aconselhado.

El giro: A rotação, em meio a braços desconhecidos, abraços desconfortáveis e Noelle fazia a transposição de movimentos se agarrando a quem a tomasse pelos braços. Um ponto fixo, um porto seguro, por favor. Uns olhos castanhos que digam sem sombra de dúvida: fica! Fica que eu cuido.

Não conseguiu. Chegou o momento do recuo.

El recuo: a essa altura, uma boa visão de todo o salão, detrás. Poderia ver todas as pessoas bailando. Mais alguns movimentos, em recuo, a perna flectida, ligeiramente, o pé soltando-se do chão.  Estava quase começando a se sentir bem, até lançar um olhar mais atento à pista. Pensava em Pugliese dizendo que o tango começa com a postura e termina nas pernas. Seu par, ao fim, deixou-a escorregar pelo chão, segurando-lhe a barra das calças, o rosto abaixado levemente virado para o lado. A vergonha. O tango era realmente a dança certa. Nem as letras dele mentiam.

Não  foram nem precisos muitos rodopios. Uma  lata de lixo de madeira como destino ao invés do chão de tacos.

Cada vez melhor.


What one write (and looks) is what one gets.

 “(…) o azar é que aqueles que nasceram para escrever delicadamente precisam pensar do mesmo modo; aqueles que podem criar uma aflição devem ser capazes de senti-la; e sendo a mente e o corpo tão unidos que um influencia o outro, a delicadeza se comunica e com demasiada frequência encontramos fragilidade e brandura de espírito num corpo igualmente notável por essas qualidades.”

trecho de um escrito de Donellan sobre Richardson e sua escrita in A experiência privada e a ascenção do romance.


“Para rebater a negatividade de Genette, diríamos que o que é realmente novidade na autoficção é a vontade consciente, estrategicamente teatralizada nos textos, de jogar com a multiplicidade das identidades autorais, os mitos do autor, e ainda que essa estratégia esteja referendada pela instabilidade de constituição de um “eu”, é preciso que ela esteja calcada em uma referencialidade pragmática, exterior ao texto, uma figura do autor, claro, ele mesmo também conscientemente construído.”

AZEVEDO, Luciene Almeida de. Autoficção e literatura contemporânea.