As vezes, começo a acreditar bastante na Fernandinha (de novo, referência constante aqui e na minha vida) e acreditar em karma e nessas coisas, acreditar que, a energia que você projeta e solta ao mundo, é o que volta a você.
Durante um mês e meio eu tive que fazer algo que eu nunca havia feito na vida e em lugares muito, mas muito distantes mesmo, para o trabalho. Resumindo (muito), tive que percorrer um circuito de hospitais estaduais e entrevistar pacientes com relação ao nível de satisfação – insatisfação na maior parte das vezes – com o atendimento recebido, as condições do hospital entre outras coisas.
Foi um mês e meio dos mais pesados da minha vida. Arrastava-me da cama toda manhã para encontrar me com gente tão humilde e que vivem numa realidade tão diversa da minha que, minha imaginação nunca deu conta daquela realidade. Perto deles, vivo confortavelmente num conto de fadas e sou a garotinha mimada da zona sul com todas as oportunidades do mundo, que tem acesso do bom e do melhor, inclusive em termos de saúde e que nunca irá entender o que eles, restritos àquele mau trato, estão expostos.
Chegou a um ponto que eu tinha até vergonha, pela minha posição privilegiada que tenho nessa sociedade tão desigual. Por muitas vezes fiquei chocada, sem reação, com uma caneta no ar e a boca aberta, pensando se é mesmo verdade, se, para algumas pessoas a vida é mesmo tão ruim assim, pensando em como e por que conseguem acordar toda manhã, qual será a motivação de vida deles e se, viver num mundo assim, não é senão puro masoquismo.
Até agora não entendo. Muitas pessoas, é claro, reclamaram muito mas se encontram extremamente resignadas. Não tem mais forças para lutar ou talvez, nem saibam como e que, talvez, seja possível. Não entendo como muitos deles são felizes e mais, aparentam ser muito mas muito mais felizes que eu. Na penúltima semana de pesquisa, somatizei esses sentimentos e fiquei doente, de cama por três dias.
Durante esse um mês e meio, penei para me manter algo sã. Coisa, que, convenhamos, é um tanto quanto difícil para mim. Apesar da montanha russa de vida emocional e pessoal que sempre me assola, chegava desejando um bom dia sorridente aos meus companheiros de trabalho, comecei a falar mais e me integrar mais com eles, com cada um deles, sem excessão, dei, inclusive, o benefício da dúvida à pessoas das quais eu não gostava. Mostrei que não sou uma pessoa assim, tão difícil de se lidar e nem tão fechada. Mostrei muita coisa, me mostrei, me deixei ir, afinal de contas, é possível que eles estivessem na mesma agitação interna que eu neste trabalho.
Ia fazer meu trabalho de maneira caprichada, delicada, eficaz e, com um sorriso no rosto. Por que, de má educação, aquele povo tem o bastante. Levei foras, mas tudo bem. Releva-se. Hospital não é um lugar onde as pessoas costumem ficar calmas mesmo. Estão certas. Mas mesmo assim tentei, de maneira árdua me manter no âmbito positivo da minha balança. Creio que consegui e agora, creio que o Universo esteja me mandando beijos e me abraçando.