Nós e a Literatura

Estou fazendo três disciplinas no mestrado. Uma sobre um tema que me interessa mas o corpus ficcional é só dos anos 70 para cá – na verdade, se concentra nos anos 90 e 00;

Uma sobre Fausto de Goethe e de Marlowe – ou seja, abarca o Renascimento e o  chamado Goethezeit ;

E uma sobre o Romance falando da construção (acho que é esta a palavra) e crise do sujeito – nesta disciplina os livros exigidos são: O Vermelho e o Negro de Stendhal, Iracema de José de Alencar e Um, nenhum e cem mil do Pirandello.

Como estou tendo certo acesso privilegiado a um mergulho sobre certas obras, essa primeira disciplina me deixa muito desconcertada. Primeiro, porque como é contemporânea minha, muitas vezes tenho vontade de me empolgar e fazer disso aqui uma extensão clarahaverbuckiana e criar um espetáculo da minha vida. Ou fazer como o Marcelo Mirisola e me jogar no lixo midiático.

Mas… como tenho as outras disciplinas penso – que pobreza é essa de referências da contemporaneidade que está sendo estudada? Por que o que está chamando atenção é essa geração mtv, internet, youtube, facebook, twitter? E citando e se apropriando e se inspirando nesse tal lixo midiático? Que coisa triste!

Eu sei que existe gente por aí escrevendo com referências (impossível não fazer julgamentos de valores aqui) melhores. Vamos selecionar, não é? Vamos elevar a Arte, gente, por que… sinceramente… se dependesse tão somente do lixo midiático, meu diário dava conta de tudo o que quero escrever e eu estava sentada vendo Big Brother (que aliás, só assisti ao primeiro pelo caráter novidade). Favor subir o nível, hein, Literatura!

Acho que nós… (vocês quando lerem saberão quem são), deveríamos nos inspirar em Goethe e Schiller e criar um tipo de Manifesto Clacissista Pós Moderno.

Claro que esta literatura a que me referi acima pode e suscita questões (senão não estaria sendo estudada) mas não deixo de pensar cá comigo que estas questões só são possíveis pelo nosso enorme background. Não creio lá que elas se pretendam grandes coisas. E eu ainda acredito que somos capazes de grandes coisas. O Peter Handke, por exemplo… ok, ele começou a publicar há MUITAS décadas mas ele ainda está vivo e produzindo e ele faz A Literatura. Por que não seguirmos uma linha coerente de valoração artística, hein?

Pensemos…

About M.

Moira A fatalidade cega. Em grego arcaico, a parte ou quinhão. Em Homero, a parte da vida decretada a cada indivíduo. O destino traçado do qual não se pode fugir e a pré – disposição à tragédia como condição inegável do ser humano. Lei suprema da vida cósmica à qual todos, humanos e Deuses estão sujeitos. Mayra Lopes Intimamente ligada a conceitos. Hardly one. Filosofia e literatura, eros e pathos, hybris e moira. Um conglomerado de hormônios e sensações. Acima de tudo, sensações. Dores e ansiedades. Mais uma fragmentação pós – moderna, com uma diferença: procuro saber de mim. Quero que o mundo se exploda. Eu só ligo para mim e para os meus. Para a arte, o pensamento e as sensações.Felicidade como estado efêmero versus desespero. Suicídio versus a vontade da dor de aprender, a procura. Descendente de espanhóis e poloneses, mantengo uma estima profunda por la lengua que me dice y por la guitarra catalán. Costumo falar de Cortázar e de literatura alemã. Tenho Goethe tatuado nas costas, sobre aquele olhar. Qual? O de todos. Devaneio, entre Miller, Pessoa e nuvens. As vezes também em algodão – doce.A minha escrita, chuva oblíqua. Passo as horas, entre PJ Harvey e um quarto cheio de história. Cheio de mim mas tão cheio de outros, que as vezes, não reconheço. Virgínia Woolf sem a escrita, depressiva. Sei quase tudo sobre os dark places e as pílulas, todas, conheço-as quase todas. Nenhuma nunca me trouxe felicidade, só torpor. Brinquei de Susanna Kaysen por três dias, me internei, me dei alta; no meio tempo, me chamaram pra fugir. Gosto de dar flores de presente mas ganhei poucas. As minhas preferidas são margaridas. É, simples assim. Detesto pleasure delayers. Não vejo sentido. Se tiver que ser algo melhor, vai ser, durante dias, meses, anos. Não há necessidade de adiar nada por causa disso. Eu sei o que eu quero, detesto jogo ( mas sei jogar como ninguém). Meus exs/minhas exs não realmente saem da minha vida. Estão todos por aqui, orbitando. Falo da maioria com carinho de como se as coisas estivessem acontecido ontem. Costumo ser amigas deles e delas. Tenho uma tendência a lembrar primordialmente das coisas boas. Na tela, de preferência a Europa e seus idiomas entre os filmes.Os finais da Lola e os meus possíveis finais. Entrei para Letras, achando que letras é alguma coisa da qual se vive, para descobrir que, apesar de uns e outros, eu não vivo, respiro. Aqui, onde a menina cresce e a mulher se esconde. Isto ainda não sou eu. “I open once and you call me Devil`s gateway”. Prazer, M. View all posts by M.

5 responses to “Nós e a Literatura

  • TEJO

    É uma moda -mas uma moda saudável- a crítica à mediocridade dos dias de hoje.

    Eu endosso essa crítica.

    Por outro lado, me pergunto se não somos apenas vítimas de um complexo saudosista (e mesmo da saudade de tudo que ainda não vimos, como Renato Russo), “ah, antigamente é que era bom…“. Mediocridade sempre houve, mas o passar dos anos dá um verniz nobre.

    Mal comparando, Pelé pode ter sido bom, mas eu assisto é ao Neymar jogando. Será que Neymar não tinha vaga naquela seleção? “Ah, mas naquela época…“.

  • M.

    Pode ser. Eu concordo que tem muito de um saudosismo nostálgico (por que, afinal, não vivi em absoluto nada desse ´antigamente´). Sim, tem muita coisa mediocre lá pra trás também mas, por que sumiu essa preocupação de fazer uma Grande Obra? Uma Obra pro sempre? Tem muita coisa que leio nessa matéria de lit contemporânea que vai ficar datada, não vai servir daqui há um tempo.
    Quanto à comparação com futebol, me abstenho de comentários porque… bem, melhor não comentar sobre um assunto que não domino. hahaha

  • TEJO

    Mas será que a Magnum Opus não se renova todo dia, e a gente que não percebe, por preconceito? De repente o incompreendido de hoje é o gênio de amanhã. Com Van Gogh foi assim.

    Mas como disse: sei exatamente o que é isso. Na minha área, Direito, por exemplo. Acho que um advogado de hoje em dia não chega à poeira do dedo mindinho de um Rui Barbosa ou de um Clóvis Beviláqua. Mas será que não estou sendo romântico? “Ah, aquela época…“.

    O futebol foi só um exemplo, nem acho que Neymar seja isso tudo rsrs

  • admin

    Entendo bem o seu ponto, Mayra, e concordo. Eu tenho a impressão de que (generalizando, o que pode ser péssimo, mas vamos lá) a postura atual não tem essa intenção de escrever A obra, por assim dizer. É mais um escrever, escrever as obras possíveis, porque isso (na minha interpretação) é já uma grande conquista. E acho que sua colocação, que combina com o meu ponto de vista, deve ter muito a ver com o fato de estarmos dentro da academia, de justamente estarmos estudando obras e autores que tiram o fôlego e quase que verbalmente nos dizem: “honre tudo o que fizemos até aqui”. Eu sinto muito isso e chego a me sentir uma velha saudosista muitas vezes. Mas é que é difícil estudar Goethe (seu exemplo) e se ‘contentar’ com verborragias que andam ao lado do superficial. Fico me questionando sobre o que mudou (muitos anos decorridos, muiiiiitas mudanças, graças a deus) e chego a pensar se não é o estatuto da Literatura que deu uma mudada; quero dizer, a forma como Literatura é encarada. Acho que hoje em dia (acho, não tenho certeza nenhuma e nem pretensão de) Literatura tende ao ‘ok, vamos contar uma historinha por alguns minutos aqui e, quando terminar, terminou’. Sei lá, é quase um desabafo. rs Seu post me diz muitas coisas. Beijos!

  • admin

    Ai, meus sais! Admin é a Bruna Maria, rs. Esqueci de dar logoff.

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