Category Archives: diálogos

Quando eu era uma “playground love”

Imagem

O problema das pessoas, no geral, é confundir certa intimidade com uma afirmativa para a falta de tato, de delicadeza, de cortesia. Se uma pessoa tem um estilo de vida mais sério que os outros, por quaisquer razões que sejam delas e só delas, que se respeite e não usem de frases como “não sabe brincar, não desce pro play”. Essas pessoas sabem brincar, mas não focaram sua vida no play. Porque desejam atingir um patamar de excelência numa idade em que a maioria das pessoas ainda não o atingiu. Porque ser bem sucedida em determinada área é importante para essas pessoas. E, principalmente, antes de ignorar algo que essas pessoas estão querendo te contar, mas que você não pode ouvir na hora, seja honesto e diga: “me desculpe, agora não posso. podemos falar mais tarde”; ao invés de não demonstrar o mínimo interesse e pronto. Não é dessa maneira que amizade funciona. Sinta-se privilegiado por estas pessoas estarem querendo dividir algo com você, algo que pode ser importante para elas. Como eu citei anteriormente, delicadeza, cortesia e tato e acima de tudo, honestidade, consigo mesmo e com essas outras pessoas, O TEMPO TODO. É tão difícil assim?


“Take the matter of information. One tatic upheld by traditional narrative is to give “full” information, so that the ending of the viewing or reading experience coincides, ideally, with full satisfaction of the one´s desire to “know”, to understand what happened and why. (This is, of course, a higly manipulated quest for knowledge. It´s the business of the artist to convince his audience that what they haven´t learned at the end they can´t know, or shouldn´t care about knowing.)

But one of the salient features of new narratives is a deliberate, calculated frustration of the desire to “know”. Did anything happen last year at Marienbad? What did become of the girl in L´Avventura? Where is Alma going when she boards a bus alone in one of the final shots of Persona?

Once it is conceived that the desire to “know” may be (in part) systematically thwarted, the old expectations about plotting can no longer hold. At first, it may seem that a plot in the old sense is still there; only it´s being related at an oblique, uncomfortable angle, where vision is obscured. Eventually, though, it needs to be seen that the point isn´t to tantalise but to involve the audience more directly in other matters, for instance the very processes of “knowing” and “seeing”.  ( A great precursor of this conception of narration is Flaubert. And the method can be seen in Madame Bovary, in the persistent use of the off- center detail in description.)

The result of the new narration, then, is a tendency to de-dramatise. In, for example, Journey to Italy or L´Avventura, we are tol what is ostensibly a story. But it is a story which proceeds by omissions. The audience is being haunted, as it were, by the sense of a lost or absent meaning to which even the artist himself has no access.

The avowal of agnosticism on the artist´s part may look like unseriousness or contempt for the audience. But when the artist declares that he doesn´t “know” any more than the audience knows, what he is saying is that all the meaning resides in the work itself. There is no surplus, nothing “behind” it. Such works seem to lack sense or meaning only to the extent that entrenched critical attitudes have established as a dictum for the narrative arts that meaning resides solely in this surplus of ´reference´outside the work – to the “real world” or to the artist´s intention.”

SONTAG, Susan.  Persona The film in depth.


como todo mundo

Me chamou pronunciando meu nome errado – como todo mundo.

Não olhei porque não achei que fosse comigo. E de novo, e de novo. Entendi, pelo barulho atrás de mim, que alguém tentava se comunicar comigo. Demorou.

– Você conhece a X.

– Sim, conheço.

– Ela me perguntou se eu conhecia uma… – pronunciou meu nome errado novamente. Eu não a corrigi da primeira vez, deu nisso. – Ela é minha amiga também.

Eu pensei foda-se, mas tenho que encontrá-la uma vez por semana durante três ou quatro meses. Não quero aguentar olhares tortos por tanto tempo. Isso iria consumir energia demais, essa animosidade. Mas continuei olhando para ela, creio que talvez tenha sorrido porque pensava: ela não é minha amiga. Conhecer alguém não é sinônimo de ter amizade por esta pessoa. Aliás, eu não gosto de X. Só que X., não sabe.


Croatian letters

” I also think this felling of loss that you described in your last email when an author sees the printed book begins earlier when you have to cut chunks of what you wrote just because the publisher´s reviewer told that the public may not get something. I know it´s their job but every word that you have to toss is like cutting a little piece of yourself. I wasn´t thinking about market when I wrote most of those thinks and, to be honest, I still not thinking about it. I have no idea how many books were sold. I´m not making any money with it since I didn´t pay for anything to get the book published. They need to recover the money they spent with me, it´s only fair. I can relate to what you said about publishing a book feel like finishing a relationship. It happens to me a lot, every time a relationship ends and I´m doing this mental retrospective, I always catch myself trying to find what or how much of me (Mayra) are in that person and why did I fell in love with her.”

Se isso não fosse tão precioso e tão nosso, Correspondência com um croata soa bem.


heart -shaped bruiser – Nan Goldin

E se eu soubesse que para ela era também amor e que, esse amor que eu sentia, que ela sentia, dava-lhe pânico, asfixia e por isso ela se permitiu a dor do afastamento?

E se não doesse tanto e por tanto tempo e se não doesse ainda, será que ainda seria amor?


Those letters

Big hug and talk to you. Take care.

 

They come just in time. A letter from Croatia, that brings me tears to my eyes and the urge to write.


Vai sempre doer mais por aqui?

Dói de ler…

Ela: cara, você já pensou se perguntou se eu quero isso?

eu: é, não… desculpa.

Ela: O que eu quero ou não quero não vem ao caso, né?

eu: =/

Ela: Pois é… 🙂

[…]

eu: tá

Ela: mas ó, não é porque eu estou chateada nem nada disso, tudo ok por aqui. Fica tranquila.

[…]

Ela: Não sei pelo que é que você está pedindo desculpas, mas não vale a pena pedir desculpas a mim. Comigo está tudo bem. Acho que só você deveria é pedir desculpas a si própria, é você quem se machuca mais nesse jogo e nem percebe.

[…]

E onde está o outro? Enfim…

[…]

Será que você entendeu?

[…]

claro que não… só poder ter a ver… deixa eu ver… com você, certo?

[…]

Você só vai conseguir ter consideração com os outros quando olhar para os outros e para isso, precisa sair dessa prisão que você criou dentro de si mesma. Se isso tem a ver com o cotação dos outros, pode até ficar partido… mas o seu é que acaba vazio, e isso sim, deve doer mais.

[…]

eu: Desculpa eu tentar lhe impor algo que você não precisa.

Ela: Se eu fosse irônica, deveria te pedir desculpas pelo mesmo, certo? rssss Desculpa a ironia. Fica tranquila, se cuida, não se sinta culpada por mim. Eu estou bem.

É bom saber que um outro está bem mesmo que não se tenha uma idéia, uma imagem, uma fotografia de surpresa, uma palavra, um gemido, grunhido, lágrima que seja, só pra ter certeza. Ruim a falta de reciprocividade (e que essa falta de reciprocidade seja uma necessidade de proteção, contra o indesejado, que sou eu.) Pesada, vazia e dolorida para ela, para qualquer tipo de contato, com ela. Dói até pegar, sem querer, a impressão de um resquício de conversa, já tão desajeitado que uma vez tivemos.


Once upon a time…

 

Há alguns anos atrás, Nívea, Mariana, Carlos e Valério e Fábio em um encontro deslocado na casa de Carlos. O motivo: video game. Video Game desde o fim dos anos oitenta virou o novo “vamos ver um filme lá em casa”.

Nívea não jogava, aquela casa enorme, ela sem poder circular, pouca bebida e tendo que aturar lutas e corridas sem graça numa tela. Em m breve momento, Mariana se desatracou de Fábio e disse:

–         Fica com o Valério.

Valério: Um brucutu de bermudas, regata e havaianas. Esforço zero.

–         Não.

–         Se eu não estivesse com o Fábio e eles não fossem amigos, ficaria com ele. Ele tem cara de sexo sujo.

–         Não mesmo.

Minha querida Mariana…. Esses homens grandes, sabe como é,sempre se achando o máximo. Que sexo sujo. Está mais para um sexo narcisista e egoísta e olhe lá. Vira pro lado e dorme e eu fico encarando a parede ou vendo a não velocidade de ponteiros de relógio.  Tem o agravante que ele vai ficar com medo de mim. Não, ele não vai me achar agressiva (a princípio) mas marco fácil, sou pequena, diminuta, quase quebradiça. Ele vai querer delicadeza, fazer amorzinho debaixo do lençol. Desculpa mas amorzinho não dá. Se for pra ser estrela – do – mar, braços e pernas abertas, imóveis, eu me resolvo comigo mesma e muito obrigada. Mal sabe(rá) ele que eu gosto de ser marcada e jogada de um lado pro outro, pra cima, pra baixo, nos móveis, no chão. Falar ele também não vai falar, não vai xingar. Pouca gente se lembra do ditado “lady na rua e puta na cama” na hora certa. Em resumo, Mari… vai ser uma merda. Eu sou homem demais para ele, ele não é mulher e nem homem para mim. Não vai dar. Eu não sou comida, simplesmente. Assim não rola. O teu problema é que você vê essa barba por fazer e uns músculos proeminentes e imagina. Minha imaginação enreveda por um magrelo bem normal, quem sabe até meio apagadinho. Homem é isso. Se não há um mínimo de privação, não tem esforço e nem troca. Não tem jogo.

E Nívea senta em um canto lendo quadrinhos feliz da vida (por enquanto).


João Paulo e o Garfield

Não tomo vergonha na minha cara que não aparenta meus vinteecinco anos. Um singelo caderno com a capa do Garfield faz as minhas vezes de scrapbook e anda até meio gordinho.

Eu não leio jornal. NUNCA. Pra quê? Morte, morte, morte, violência, assalto, chuva, terremoto, atentado e a coluna social que… boring demais prestar atenção em socialites que ninguém reconhece e sub – celebridades. Mas eu tenho uma sorte de pegar o jornal nas horas certas e ter comigo certas peças, artigos, resenhas, críticas e crônicas bem interessantes.

Garfield não discrimina. Nele há desde textos de apoio para que eu escrevesse minhas dissertações à época do Ensino Médio, a resenhas de coletâneas de contos, contos de verdade (de outras pessoas, claro), artigos sobre leituras essenciais (alguns exemplos? Goethe, Shakespeare, Guimarães Rosa, Pessoa, Proust, Kafka, Borges, Cortázar, Pessoa, Machado. Woolf… não importa. Clássicos que as pessoas tem que ler para se tornarem bons leitores, críticos e livre pensantes – e bons escritores também). Reportagem que marcou meu medo da publicação, chamado “Pilha das Ilusões”, sobre a pilha de livros enviados por esperançosos pretensos escritores às editoras e que estão fadados a uma vida em conjunto com as traças, crônicas sobre a decadentização da língua, resenhas sobre autores contemporâneos meus e muitas, muitas crônicas do João Paulo Cuenca, da época que ele escrevia em um suplemento semanal do Jornal O Globo (há um blog – abandonado – dessa época). Foi por este suplemento que conheci o trabalho dele. Li dois dos romances, não vi a minissérie. De vez em quando, acompanho as meias palavras que ele deixa escapar no Estúdio I (programa da Globonews).

Mas a escrita pela qual eu me apaixonei, foi a de cronista. Tanto que hoje, retomando e relendo o Garfield, consegui selecionar minhas três crônicas preferidas (as quais não estou conseguindo acessar pela internet e portanto, não poderei linkar). Chamam-se: Lúcio, o lúcido; Presos do lado de fora e, principalmente a crônica cujo título é O que faz valer a pena. A melhor de todas.

Sugiro também a leitura das crônicas escritas em Portugal e no Japão. Sugiro as imagens que as acompanham, e a música da semana. Como, por exemplo… Charlotte Gainsbourg cantando La Collectionneuse (minha música preferida dela) como uma das músicas das semanas.

Favor entrar nestas curtas narrativas sobre o Balneário de San Sebastián ou sobre qualquer outra cidade, no mau humor sobre a futilidade do falecido Tim Festival e na lucidez misturada a neuroses e perguntas, muitas, muitas perguntas. Tantas perguntas que eu decidi retomar meu trabalho em cima destas mesmas crônicas. Das gotas, das pequenas narrativas em que tudo e nada são ditos de forma tão… tão quase impossível, para os dias de hoje.


Imaginariamente…

– Teacher, are you single?

– Yes.

– So, no boyfriend?

* Teacher looks angrily at the student and says in a harsh voice*

– No.

– Girlfriend?

– I suppose you want extra homework today.